Grito Número Oitenta e Três:

domingo, 20 de março de 2011

A Ponte Sobre o Rio Ubá

O céu encontrava a noite
Lusco-fusco teatral
A estrada refletia
A dor mais infernal

Os estilhaços cortaram
O que eu dizia ser eu mesmo
Meu coração de vidro se encheu
Quando eu cruzei a ponte sobre o Rio Ubá

Pressenti o destino podre e miserável
Que sempre soube onde poderia me encontrar
Quando avistei a ponte sobre o Rio Ubá

Quantas almas entenderam meu lamento
Quando meu pobre coração encontrou o cimento
As luzes dos caminhões se puseram a chorar
Quando meu carro encontrou a ponte sobre o Rio ubá

Implorei a minha imaginação
Hesitei em ter vivido em vão
A certeza é o lamento daqueles que se vão
Sempre soube minha hora, sempre soube o meu lugar
Sempre soube que minha alma, pedia para se atirar da ponte sobre o Rio Ubá

As almas choram para ilustrar
Como é assistir o fim de um futuro sem quiçá
Não há mais porvir
Há somente mais um carro, se encolhendo sobre a ponte do Rio Ubá

Infiltrado no caminho das bocas de jacarés
São mil almas na noite que cantam com faróis
Que por pequeno instante pensei se tratarem de dois sóis
Como pude me enganar
Na noite em que fui mais um que desfaleceu na ponte sobre o Rio Ubá

Meu fim foi numa noite
Em que sonhei poder voar
Caí, eu vi, tentei jamais acreditar
Transformações que levam para o lado de lá
Esse foi meu trágico dia
Em que me tornei mais uma alma a chorar
Lágrimas em vão ao relembrar
De mais uma noite maldita e triste sobre o rio Ubá

Toda noite os carros passam para seu destino encontrar
Em um lugar qualquer existe uma curva de medo e morte
Está perto de quem se encontra ao coração do norte,
Norte do Paraná
Numa noite dessas uma gralha azul resolveu grasnar
Para outro homem morto na curva que passa pela ponte sobre o Rio Ubá


2 comentários:

Cecília Arsky disse...

Rio Ubá, palco de tantas tragédias!
Na sua maior parte por imprudência...
Porém sua localização fica na curva da morte....
Mas lembre-se que nessa curva também existe uma bica de água purinha que jorra de uma nascente!
Parabéns mais uma vez pelas suas histórias!Seu talento é excepcional!

Anônimo disse...

Quero conhecer essa ponte pois, se não me engano, não é a primeira vez que ela aparece por aqui... mt bem descrita a atmosfera mórbida da ponte. Parabéns!

Bruna Barievillo