Grito Número Quarenta:

domingo, 29 de agosto de 2010

Eu preciso dizer para ninguém, e quando digo ninguém, digo você.

Eu sou Tyler Durden.
Eu sou Alex DeLarge.
Eu sou V.
Eu sou o Demônio.
Eu sou Deus.
Eu sou singular e comum também.
Eu sou o amor mais puro que existe.
Eu me entendi e amei quem sou porque abri uma garrafa fechada por mais de 22 anos e sem saber o que iria encontrar dentro dela, tomei sem hesitar.


Grito Número Trinta e Nove:

Macabea ou Santo Agostinho, não me importa.
Eu sou minha própria revelação.
Sou o luxo que me dou por ser.
Sou minha própria farsa que me assusta.
Quero ser a epifania que eu já sei os resultados.
Somos sujos, somos canalhas de um excesso qualquer.
Somos sexo e somos a busca da pureza.
Somos o que buscamos e o que queremos ser.
Sou a música que meus ouvidos temem em entender.
Somos a esmola de um povo que não se perdoa em viver de trocados.
Eu sou uma merda de filosofia de botequim que temo em aceitar.
Sou meus próprios deuses e copos de veneno em cima de um piano que toca a canção mais maldita que eu poderia temer em ouvir.
Eu sei que posso me surpreender até mesmo com o mosaico da merda que se faz no papel quando limpo meu próprio cu.
Não saber. Não saber. Não saber.
Isso é bom, pois me da sede.
Sede de querer saber o que nunca vou entender mesmo sabendo.
Sede da água que cismo em jogar fósforos acesos, só pra vê-los apagar com o barulho que me faz me apaixonar.
Garrafas de aguardente verdadeiras nos fazem enxergar o que sempre vimos mas temos vergonha de assumir.


A rotina do demônio é fingir que é Deus e apurrinhar os mais crédulos.
A aranha só tece sua teia pois sabe que não vai morrer enforcada nela.
Constância.
Constância.Constância.Constância.
As verdades, principalmente as minhas, não são absolutas, pois vou me surpreender.
Comigo mesmo ou com o fósforo que vai apagar quando eu abrir a torneira embaixo dele.

Grito Número Trinta e Oito:

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lá em Cima do Piano...

Qual a poesia que tintila em um copo de veneno senão bebê-lo e morrer?
Qual a poesia de estar acorrentado senão para romper os elos malditos que não te deixam voar.
Procurando saídas.
Ser visceral.
Não sei o que você se tornou, mas me encantou tudo aquilo que um dia você foi.
Eu andei precisando sentir o gosto do que um dia foi meu maior veneno. Eu andei pensando em procurar alguma coisa que me faça sentir. Só não sei o que.
Orei para que a neblina cobrisse meus milhões de cadáveres, mas era muito mais fácil ter fechado a porta do armário.
Carrego tudo que eu fui nas minhas vísceras e no meu sangue. Preciso de sanguessugas.
Meu coração pede para palpitar e não para estar em dúvidas.
Porra, eu sou algo que não existe mais.
Eu procurei alguém como você nas minhas palavras, nas minhas trilhas. E se passaram milênios para eu ver que certas coisas nunca mudam.
Certas coisas nunca mudam e eu não sei o que me espera.
Se é um tiro ou um beijo, eu só preciso escolher a arma.
Nos braços que você já esteve hoje estão papéis e canetas que escrevem besteiras.
Eu consegui destilar todo o veneno do peito e colocá-lo em um copo. Mas me diga...

...qual a poesia que tintila em um copo de veneno senão bebê-lo e morrer?

Talvez se bebê-lo eu possa dormir um pouco mais.

Grito Número Trinta e Sete:

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Li há pouco a história de um pássaro morto e como ele fez o escritor refletir. Refleti sobre sua reflexão.
A ave viveu na gaiola que caiu de um alto andar de um prédio; ao chão a gaiola intacta e restos de pena numa estanha sopa de sangue no asfalto.
Já não podemos voar, e os grilhões tem mais força que a vida.
Grilhões, grilhões, grilhões, eu tenho usado demais esta palavra.
Talvez esteja realmente preso, talvez esteja precisando gritar de verdade e não me prender ao teclado, monitor, insônia, cansaço e café.
Ando me sentindo solitário e isto até tem sido bom, pois tenho desabafado comigo mesmo.
Esse texto é o mais visceral que já postei aqui, estou num momento Bukowski, mas não quero que meus gritos sejam pedaços dos diários mentais que componho em minha cabeça.Este espaço é para a arte que sai dela.
Vamos todos morrer, e o que vai sobrar de cada um de nós?
De mim, meus gritos mudos, minha ânsia de viver, minha vontade de ser eu mesmo e de ser ouvido, meus sacos e mais sacos de sementes de flores do mal.
Talvez um film noir sobre qualquer assunto estúpido que pareça genial aos meus olhos.
Ando carregando um fardo que não sei o que é, nem de onde vem, nem o porquê de estar em minhas costas.
Quero que minha gaiola caia de um abismo, para que eu possa sair voando por qualquer lugar.

Grito Número Trinta e Seis:

quinta-feira, 12 de agosto de 2010



A Mão e o Alho

Essa fotografia foi tirada por mim em uma feira, em meados do ano de 2009, na cidade de Santo Antônio da Platina - PR. Foi um momento muito breve, a imagem surgiu, eu vi a poesia naquele instante e o capturei para sempre.
O verdadeiro artista nesta imagem não é o fotógrafo, mas sim esta velha mão, que garimpa caprichosamente as cabeças de alho procurando as melhores dentre as muitas.
Não me lembro do rosto desta senhora, sequer sei seu nome, mas essas mãos mudaram minha vida em muitos aspectos. Principalmente em ver poesia onde parece não existir.

Grito Número Trinta e Cinco:

terça-feira, 10 de agosto de 2010



Um Dia Qualquer

E passam os dias iguais, tão malditos, e ficamos parados mascando vidro.
Não sentimos sabores, mas sentimos a dor.
E a rotina e o tédio são leis que nem tentando conseguimos burlar.
Mover a rotina pro inferno.
Mover o inferno para longe de mim.
As letras dos livros tremem e não me deixam ler.
As luzes piscam sozinhas e o mofo na parede cresce.
Não vai dar tempo de almoçar, como um pão com qualquer coisa no caminho.
Minha tosse oscila a frequência.
Mando o novo acordo ortográfico para o inferno.
Trabalho, rotina, sufoco.
São seis e quarenta, tenho que levantar.
Ponto eletrônico, catraca, suor.
Disco novo da banda.
Fobia de assalto.
Jogos eletrônicos de primeira e última geração.
Indiferença e masoquismo em perguntar que horas são.
Querer ir para casa sem saber onde eu moro.
Não pertencer a lugar nenhum.
O fulano apareceu, finja estar interessado nesse papo idiota.
Seja sintético.
Perdi minhas chaves. Não, estão no bolso da outra calça que rasgou.
Será que eu estou louco?
Pisar em merda de cachorro.
Querer esfregar a cara do vizinho no asfalto e fazê-lo estacionar o carro em outro lugar.
Analisar o arame farpado e se sentir atraído por ele.
Metal enrolado para fazer coação.
Surtos de madrugada, insônia.
Grilhões mentais.
"Você tem escápula alada", diz o médico.
Vou pedir tomografia e ressonância da coluna cervical.
Mais grilhões mentais.
Cadafalsos mentais.
Onde estacionei o carro?
São cinco e meia tenho aulas optativas.
Suicídios virtuais.
Indiferença e pontos finais.
Sem vírgulas nunca mais.
Para onde eu vou depois, se eu nem sei onde estou agora?