Grito Número Noventa e Três:

quinta-feira, 28 de abril de 2011

SEGUNDA-FEIRA

Passa logo segunda-feira!
Passa de uma vez!
Antes que eu jogue este calendário fora.
Se resolver persistir, fatídica segunda,
Avisa-me, para que eu vá embora.

Grito Número Noventa e Dois:

segunda-feira, 25 de abril de 2011

FRUSTRAÇÃO

E se aproximando o momento do rugido de vitória lembrei-me de meu currículo: a primeira e única revolução efetiva que participei foi quando concluí uma mijada inteira sem pingar fora do vaso.
Ainda assim resolvi brindar à tentativa que o momento me ofecerera, com canções de liberdade, meio às flores despedaçadas e pinos de granada, mas minha garganta estava repleta de rouquidão.
E ao colher os cravos não-pisados do chão, os ergui apontando para os céus, com lágrimas nos olhos e mudo, para celebrar o fim a opressão crônica.
Então fui queimado com napalm junto com todos que gostavam de cantigas sobre flores.

Grito Número Noventa e Um:

sábado, 16 de abril de 2011

O ENDORCISTA



"Agora aceita a cruz ou a doença, bastardo!"- disse o líder.
Mal sabia que a doença era ele e tudo o que ele representa.

Grito Número Noventa:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

TODO FUNERAL SERÁ MINHA FESTA

Sabe que dos funerais podemos tirar muito proveito?
Além do pranto escandaloso e das frases feitas, digo. É o renascer dos que ficam meio aos crisântemos, messias de bronze e orações decoradas.
De enxergar onde se erra todos os dias de vida, de questionar seus prováveis epitáfios. É a hora de enterrar o que se foi e seguir.
Todos os dias alguns pássaros morrem e todos os dias o resto deles voa.
Dance e faça as orgias sobre o féretro que somente tenta lhe ferir.
Se entregue ao funeral que desterra a plenitude de seus dias.
E nunca diga amém a essa angústia melancólica.
Engole o choro, chame o barman e peça pra descer outra dose de bebida forte. Beba e continue caminhando inabalável, qual fortaleza medieval.
E pise nessas malditas flores de plástico de jazigos nada convidativos.
Amém e já foi tarde.

Grito Número Oitenta e Nove:

segunda-feira, 11 de abril de 2011

SOBRE UM PAR DE ÓCULOS MÁGICOS QUE TRAZ EPIFANIAS (TRISTES)



Era o intervalo das aulas matutinas, algum horário entre nove e dez da manhã. Em um círculo de amigos e colegas bebíamos cafés e capuccinos.
Enquanto alguns conversavam de assuntos que não me interessavam tirei meus óculos e entreguei para um amigo os colocar, só para ver como ficavam, como em uma típica brincadeira pueril.
Disse ele com a lente frente aos seus olhos:
-É como enxergar se eu estivesse dentro de um aquário!
E no final do dia, quando tirei meus óculos para descansar por alguns instantes antes das aulas noturnas, não senti diferença de estar com ou sem minhas lentes, além de um ligeiro embaço.
Talvez aquelas lentes mostrem o mundo como eu vejo, e de tão estafado não noto que por elas transparece a gaiola de vidro que vivo, sem perceber.

Grito Número Oitenta e Oito:

domingo, 10 de abril de 2011

SOBRE ENGANOS, CONVICÇÕES E CAMINHOS ADVERSOS

Eu gosto de tentar me enganar. Tento ser verdadeiro nas coisas que faço, mas eu vivo de tentar me ludibriar a todo momento.
Eu estou trilhando o caminho do terno e da gravata, com muito boas intenções, mas meu coração pede que eu vista uma camiseta escrito "SUBVERTA-SE!".
Eu penteio o cabelo para trás, tipo executivo bem sucedido, mas eu sei que ele quer estar sujo, fedido e livre.

"Posso ser tolo, mas meu coração bate ainda a mesma canção."

Eu vou seguir nesse caminho que pode tentar fazer com que eu me engane, mas vou subverter tudo que pairar ao alcance das minhas curtas mãos, vou ler os
códigos de ponta cabeça e discordar de todas as leis burras e que tentam fazer com que as pessoas deixem de viver suas vidas.

Vou mijar nos grilhões.
Vou me enrolar ao amor da bandeira preta. Eu tento me enganar que deixei de crer nela, mas ela estampa meus sonhos.
Um mundo sem fronteiras e grades, humanidade unida em prol da liberdade, igualdade e justiça.
Sem barões, sem matança, sem líderes, sem classes, sem guerra e sem igrejas.

Da paixão da juventude, eu tive de adaptá-la das diatribes e sprays na parede pelo verbo manso e pela arte. Tem me trazido bons resultados, tenho arranjado
simpatizantes, que um dia podem se tornar seguidores, que um dia podem semear e espalhar boas convicções.
Eu não posso deixar que eu tenha medo que me julguem. Não posso transmitir medo à essas mentes falidas e fracassadas. Eu devo mostrar a maldição futura
de se pensar como pensam.
Eu quero cagar na esquerda, mijar na direita e mandar o centro à merda.
Eu finjo me enganar, eu finjo me conformar. Finjo comer pelas bordas.
Talvez eu apenas tenha tentado me enganar e nunca tenha conseguido.
Talvez eu esteja preso em mim mesmo de tanto tentar fingir.
Mas acho que finjo estar preso só para clamar por liberdade.

Grito Número Oitenta e Sete:

terça-feira, 5 de abril de 2011

NICTOFOBIA

Certas coisas nunca mudam, isso já sabemos. Mas o que é novidade para muitos é que certas coisas não mudam nada.
Nos esforçamos tanto para esconder quem somos por debaixo das tatuagens sociais que maquilam nossos Quasímodos de Notre-Dame, mas no escuro, somos quem somos, feras indomáveis, bisões feridos e observadores cegos de nossas imagens no espelho.
O escuro aqui narrado é um espaço sideral apenas seu, o lugar de aconchego onde niguém pode lhe ferir, ninguém pode lhe julgar. Entenda que nesta escuridão protegida, quem lhe parecer ter a certeza de poder acompanhar, jamais abalará sua proteção.
Este escuro é bom.
É onde os fracos se escondem e onde os fortes mostram que são fracos também.
O escuro tem mães mortas e pais bebâdos, tem luxúria e castidade, tem roupas íntimas sujas e seringas usadas do lado de imagens de santas católicas rachadas.
Ninguém tem o rosto tão confuso quanto este se faz no escuro. O escuro pode lhe revelar tudo, mas na maioria das vezes, nem mesmo nós nos enxergamos no escuro. Ficamos de joelhos e imaginamos dolorosamente quem somos na realidade.
Não tenha medo de acender as luzes do seus escuros, não tenha medo do que possa lhe assombrar.
Porém cuidado, chamas iluminam tanto quanto queimam, portanto tenha talento para iluminar. Não obstante encontramos peças de um quebra-cabeças que jamais saberemos montar.
São pedaços do que fomos e do que seremos.
Somos nós.
E boa-sorte.

Grito Número Oitenta e Seis:

domingo, 3 de abril de 2011

FAÇA ALGUMA COISA, PORRA!

Não precisa queimar tudo!
Não precisa queimar todos!
Basta você se apegar!
Não precisa mudar tudo!
Não precisa ir contra todos!
Basta apenas acreditar...

Nas estrelas que brilham como fogo de revolta
E cometas que são como tiros de polícia a sua volta
Crescer sem esperança é viver em vão
Desnecessárias são as armas
Quando se tem o poder da canção

Qualquer um podia estar frente a mil tanques
E faze-los parar para ouvir a sua voz
E com palavras de brilhantes
Que promovem os sonhos belos de todos nós

Quem sobreviveu mais um dia na cancha do matadouro?
Somos aves presas pelos pés
Somos próximos na fila para retirar o couro
Onde estão nossas palavras de fé

Força onde não mais há
Para abrir o peito
E faze-lo gritar

Mudar
Trocar
Não precisa matar
Não precisa queimar
Melhorar
Aceitar
Que dias bons após a tormenta
Sempre tendem a chegar