Grito Número Duzentos e Três:

quarta-feira, 22 de maio de 2013


ANGÚSTIA O QUE CUSTAR

O que o conhaque não cura
O cigarro queima e segura
A zonzura que aperta e apura
Aquilo tudo que me moi.
E para não ficar na tortura
Busco ternura no colo
De uma qualquer criatura
Ao mesmo tempo em que o pequeno diabo de dentro me destroi.
Não é só o amor, viver também doi.

Grito Número Duzentos e Dois:

sexta-feira, 17 de maio de 2013


LEMBRAR DE MIM, TODA VEZ QUE RESPIRAR, LEMBRAR DE MIM, SE EU NUNCA MAIS VOLTAR

É pateticamente óbvio, mas eu já fui um menino. Tentava forjar uma barba cartunesca e tinha pôsteres na parede. Chamava meu quarto de "O Calvário" e queimava mentolados olhando para as estrelas, debruçado na janela.
Hoje, a barba está mais grossa, larguei o tabaco e no quarto, agora chamado apenas de "quarto", não tenho nada na parede que não esteja em uma moldura. A constante "cachaça com soda" da alegria deu lugar ao esporádico conhaque da melancolia. Minha dezena de furos na orelha estão fechados e meu cabelo está curto, com sua cor natural e uma mecha pequenina de fios brancos de lambuja.
Mas ainda olho as estrelas de quando em vez. Ainda suspiro muito, talvez até mais do que antes, e ainda digo "ai, ai", com uma tépida ternura, depois de suspirar, como se eu sentisse todas as dores do mundo e sorrisse para elas, tal e qual velhos amigos de boteco.
Nesse tempo de menino, sonhava em viajar para o futuro, para visitar a mim mesmo e sondar por onde andariam meus passos. Hoje, eu só penso em voltar e me dar um abraço forte.

Grito Número Duzentos e Um:

segunda-feira, 6 de maio de 2013


ESCRITOS ESCROTOS

Dizer "vai tomar no cu" é o mesmo que dizer "eu amo você".
No fundo, bem lá no fundo, você sabe que são somente outras palavras.
Vem daquele lance de se importar, da tênue linha onde o amor se equilibra embriagado de vinho barato.
A diferença é que o "amo você" é dito ou escrito por caras escrotos.
Sou um cara escroto, antes de tudo. E assim é o amor dos caras escrotos. Entre amores e pompons.
E no fundo, é ipsis literis ao amor bandido, muda o layout e a gramatura das palavras.
Quem não gosta, é porque tem cinzeiro de boteco no lugar do coração. Aliás, o problema não é desgostar: é não entender sua existência. E a esses desgostosos com as distintas formas de amor, que recebam todo o meu amor, e enfiem no cu.