Sobre escrever com tinta preta...
Havia acabado de publicar um poema-protesto sobre alienação e exploração religiosa, coisa bem ácida, pouco fina.
A obra era intitulada "O vendedor de Homens Mortos", nada mais do que o homem que vendia a imagem de messias ocidentais, para se entupir de moedas de ouro.
Enquanto fazia a publicidade virtual da obra, o chefe do meu chefe, ou seja, meu chefe supremo, me faz a pergunta: "Por que és tão mórbido?"
Respondi o que me veio à mente, disse que me letrei lendo Baudelaire, Augusto dos Anjos e Allan Poe e que havia crescido assistindo a filmes de terror de quinta categoria como "O Palhaço Assassino", meu filme favorito aos 6 anos de idade.
Até hoje, quando assisto "O Massacre da Serra Elétrica", "A Hora do Pesadelo" e outros "clássicos" vejo poesia e homens que só queriam ser entendidos.
Disse também que não vivo só disso, que ao ler "O Pequeno Príncipe", a obra do francês desperta o que há de mais puro em mim. E que sou assim, sou mesmo puro. Que sempre leio da bucolia e do amor de perdição, mas ao momento de traçar as linhas de escritor de botequim, me faltam essas palavras.
Fico mudo.
Por isso prefiro dar meus gritos mudos, por isso prefiro refletir sobre as trevas, pois nelas pareço mais brilhante e reluzente do que talvez eu realmente seja.
Ele disse que havia me entendido e que estava muito bem justificado, de forma muito inteligente.
Reiterei "não sou, nem nunca fui um roqueirinho de vila", minha forma de retratar tudo que sinto através de morbidez se dá de uma forma natural. Talvez eu pilhe esses "corpos verbais" para me sentir mais vivo do que eles. E são nas caveiras dançarinas, que bailam canções esdrúxulas nos cemitérios que vejo, todos dançaremos esta dança funesta um dia, e somente quando nos tornamos esqueletos bailantes que deixaremos todas as diferenças, só quando somos crânios e ossos, nos tornamos homens iguais. As caveiras que eu retrato, somos nós, homens.
Sem classe social, sem cor de pele, sem nada de diferente.
Só quando esqueléticos, nos tornamos homens puros.
E sempre foi isso que busquei, ser puro.
Ver amor nas trevas.
E por ver sinfonia, poesia e amor no lúgubre e no funesto me deixa cada vez mais próximo do que busco ser.
O amor mais puro que existe.
0 comentários:
Postar um comentário