AVESSO DO AVESSO DO AVESSO DO AVESSO
Final de tarde de um domingo de setembro. Estava quente e não estava programado para tal calor. Agasalhado, suava dentro do metrô. Não gosto de carregar roupas, já havia um livro em minhas mãos e resolvi suar até o final dos trilhos da linha azul. Estava voltando da rodoviária do Tietê, fui designado por familiares para acompanhar uma moça que desconhecia a cidade e precisava pegar um ônibus.
Fui olhar as horas e me dei conta que não havia relógio em meu pulso.
- Será que tirei antes de sair de casa ou será que alguém de mão leve me levou e nem percebi? - falei sozinho.
No vagão, crianças riam alto e brincavam, gargalhavam e agiam de modo escandaloso. Aquilo me irritou e atrapalhou minha leitura.Resolvi mudar de vagão para conseguir ler.
Me chamou atenção um agrupamento de pessoas sentadas em um canto de meu novo vagão. Uma senhora oriental lia um periódico do Seicho-No-Ie, logo ao lado, pai e filha, ambos de cabelos negros e longos sorriam um ao outro e usavam camisetas de heavy metal com desenhos do Demônio (com direito a tridente e tudo mais). Mais atrás, um rapaz transpirava sua homossexualidade no jeans desfiado e no seu tênis com lantejoulas, bem como em seu cabelo de corte moderno e cheio de glamour, acho que cantarolava uma canção da Lady Gaga. Ao lado do rapaz, uma freira albina, de cabelos, cílios e sobrancelhas branquíssimos, olhos vermelhos e pele rosada, segurava em mãos um terço de madeira. No final do agrupamento duas mulheres, aparentemente da vida, cruzavam suas pernas roliças e desnudas e falavam sobre homens de dinheiro (provavelmente deslocavam-se para o trabalho dominical de vender amor para homens tristes).
Quanta diversidade em pouco mais de um metro quadrado, pensei comigo.
Depois pensei:
- Obrigado, São Paulo de todo o mundo, por me dar tanto e pedir tão pouco em troca. Como sou grato, São Paulo, por deixar tão claro que "os novos baianos te podem curtir numa boa".
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