Grito Número Cento e Vinte e Dois:

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

POSITIVO E OPERANTE

Já faz mais de cinco anos que o observo. É dono de uma pequena banca de petiscos na Rua Vergueiro. Vende sucos, balas, salgadinhos e outras coisas com gosto de infância. Mas não são seus produtos que me chamam a atenção. Nem mesmo a letra de "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores", de Vandré, pintada na lateral da banquinha.
Todos os dias bem cedo, ele faz as amarras do toldo de sua banca, arma uma cadeira de praia velha, devora uma fruta e lê o jornal, tudo isso sem usar as mãos, até porque ele não as tem. Pelas cicatrizes julgo ser amputado, mas talvez seja de nascença, quem sabe.
Um dos membros acaba logo depois do cotovelo, lado que usa como uma pinça para seguras as coisas, de jornais às maçãs. O outro vai até os dedos da mão, mas sem o polegar, e os dedos que lhe sobram parecem com garras de um velho com artrite severa.
Como não pode pegar as moedas que as pessoas lhe pagam, pede para que coloquem no display na ordem dos valores (da escassa moeda de 1 centavo até as de 1 real), pede também para que peguem o troco. Nunca pede para que mostrem o valor pego. Talvez ele acredite que ninguém tem coragem de roubar moedas de um aleijado, talvez confie plenamente no coração das pessoas. E sempre sorri.
Não gosta de dar informações, razão pela qual imprimiu um cartaz com as principais perguntas que podem lhe fazer; é um visionário: fez um FAQ sem mesmo saber o que é isso.
E olhando este homem toda vez que posso me faz crer que nada é um obstáculo de verdade e que por detrás de cada passo duro existe algo a ser aprendido, independente de karma ou força divina, aprender a ser um ser humano melhor e mais forte.
E ainda que ali naqueles membros não haja polegares para enviar um sinal de positivo, existe um sinal positivo muito mais forte por detrás de seus óculos arredondados. Sempre e positivo e operante, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

Grito Número Cento e Vinte e Um:

segunda-feira, 29 de agosto de 2011


CAFÉ DOCE, AÇÚCAR TRISTE

Enquanto não chegava a hora do compromisso, me sentei em uma tradicional "padoca" em uma travessa da Domingos de Morais.

- Um café puro, por favor.

Como é bonito um copo americano de café no balcão de granito.
Como são bonitas as laranjas penduradas que convidam o paulistano a entrar e tomar
suco no café da manhã.

- Odeio café com açúcar!
- Você não sabia que tinha? - perguntou o balconista.
- Sabia sim. - respondi.
- E então?
- É que eu gosto de sofrer.
- Fala sério, seu doido! - disse o balconista com tom jocoso.
- Olha como o copo é bonito... ele me deixa menos triste. Mas beber essa coisa doce me devolve a toda a tristeza.
- (...) (sorriso amarelo)
- Fico na mesma que os outros, que estão tomando suco de laranja ou comendo pão com manteiga. É só um café.
Nem feliz, nem triste. Só estou tomando café da manhã.
- Deu mil e oitocentos, amigo. O café, o cigarro e a bala de hortelã.
- Fica com o troco.

E saí para tentar (em vão) chorar sozinho no Largo Ana Rosa.

Grito Número Cento e Vinte:

domingo, 28 de agosto de 2011


SOBRE JUJUBAS E ELEFANTES MURCHOS



Uma colega de caneta, dessas que a gente não conhece pessoalmente, mas já leu uma verdadeira antologia de produções da pessoa, sempre soltava sua máxima: "Jujubas e Elefantes Murchos".
Ora, diabos, se estes elefantes estão murchos, por que não comem as jujubas?
Na verdade, eles comiam, mas as jujubas eram pedriscos e aqueles paquidermes eram daltônicos.

- Hey, Sr. Elefôncio! Estas jujubas são pedras, não está vendo?
- Para mim são jujubas, e muito saborosas!
- São pedras, sua besta! Veja!

Foi aí que o elefante murcho secou de vez. A epifania forçada lhe fez mal. A verdade doía como agulhas debaixo da unha.
Mas num dia de seca, olhou para as pedras e sorrindo as alcançou com a tromba.
O velho ranzinza, aquele epifanista magro e nojento, já gritou de longe:

- E falam da memória do elefante! Já te disse que são pedras! Pedras!
- Não são, são jujubas! - e seguiu comendo. E ainda de boca cheia complementou para o velho:
- Você que sempre viu errado.

E o velho colocou umas pedras na boca e mastigando, perdendo dentes disse:

- E não é que são jujubas mesmo!?

Grito Número Cento e Dezenove:

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

CORAÇÃO VELHO


Meu coração de gesso
Que faz deste tórax um relicário
Peça na gaiola de ossos espessos
Quer trocar qualquer migalha por um pouco de trabalho

Meu coração de gesso
Quer voltar a ter batidas
Quer superar quando o enegreço
Com prostitutas e bebidas

E quando resolvi dar calor ao velho gesso desbotado
Notei que o vivo avermelhado não é mais que o mais suave tom salmão
E quase adormecido, sem notar o ocorrido, o tombei de minha mão

Meu coração dilacerado!
Tentei juntar a poeira e os cacos, porém foi tudo em vão
Meu coração agora é história, nas mãos e na memória de quem já havia o negado de antemão...

Grito Número Cento e Dezoito:

terça-feira, 23 de agosto de 2011

SOBRE OS GAROTOS DOS VERÕES PASSADOS

Uma canção de tempos ancestrais veio cair no meu colo por acaso. Não procurei por ela. Simplesmente vasculhando minhas velhas palavras encontrei seu título perdido pela volta.
Foi então que resolvi escutá-la. E cada acorde, cada palavra, cada batida me lembrou um pouco do antigo Dan, o que esteve aqui antes deste velho eu-lírico das crônicas com o lema "66 anos em 23".
O garoto que trocou os tazos e revistas em quadrinhos pelos discos de rock.
O menino que respirava contracultura, que se vestia estranhamente, usava meias amarelas até os joelhos, moicano em pé ou cabelos compridos, amarelos, azuis, vermelhos, púrpura, rosas e verdes.
O garoto que tinha sede por filosofia, que lia Nietzsche e teorias anarquistas e estava "cagando" para o parnasianismo, para o "lirismo comedido", do "bem comportado" e do "lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho de um vocábulo."
O menino tolo que queria sentar na calçada e não fazer nada até as seis horas da manhã, todos os dias.
O garoto que desenhava crânios e caveiras nos cadernos e carteiras.
O menino que tentou ser crente aos 10, e acho tudo aquilo patético, católico aos 7, e achou patético, bruxo aos 12 e achou patético, satanista aos 14 e sim, achou patético e descobriu que estava acima de tudo isso. Era peça com defeito. Sem encaixe para pinos hipotéticos.
O pequeno homem que achava que mudaria um pedacinho de seu mundo com suas palavras, discursos e seu jeito de agir.
O menino que tão cedo botava fé no jogo do bicho e nunca ganhou. Tomava seus tragos antes de ir para o colégio.
Pichava frases de efeito com tinta vermelha e preta nos muros.
Queria amar alguém intensamente.
Queria gritar intensamente, para que qualquer um pudesse ouvir.
Sonhava alto, baixo e médio.
Ia ao asilo da cidade, por conta própria, e fumava escondido com os idosos.
Não comia legumes, nem frutas.
Era o próprio Holden Caulfield, mas não sabia disso. Tinha os cigarros, o chapéu vermelho, a maleta, o casaco e a dúvida sobre para onde os patos vão quando o lago congela, mas não sabia disso. Tinha vontade de ser apanhador, mas era uma criança perdida no centeio.
E na única vez na vida em que não estava envolvido, no dia em que levaram conhaque para a excursão da escola, ficou com vontade de assumir a culpa, só para encrencar.
Era o garoto que descobriu sozinho o que é ser extremo e viver extremo.
Era o garoto que conseguia acender cigarros no seu próprio inferno pessoal e relaxar entre as chamas e labaredas.
Não fazia sucesso com as meninas, mas as poucas que o olhavam guardaram para sempre alguma coisa.
Achava "tosco" ser normal e sempre sentiu que a normalidade não lhe servia. E tudo o que fez para ser normal era como uma roupa de bebê em um homem muito gordo.
E o tempo passou e passou... e a ânsia pueril adormeceu para sempre.
Mas se da ânsia pueril nada sobrou, convicto estou de que me sobraram os olhos de criança que enxerga um mundo novo a cada segundo, conseguindo admirar formigas fazendo uma fila, folhas secas sobre a grama, um desenho animado dos anos 20 ou um sentimento aparentemente tolo.
Estas são algumas das faces dos garotos que eu fui nos verões passados.
E eu posso te dizer que meu amor por você ainda será forte, depois que os garotos de verão tiverem ido.

(And I can tell you, my love for you will still be strong, after the boys of summer have gone.)



Grito Número Cento e Dezessete:

domingo, 21 de agosto de 2011

SOBRE SORRISOS PLÁSTICOS

Caminhava por algumas
ruazinhas sujas de São Paulo. A garoa fria era potencializada por um vento forte, tão frio que meus dedos doíam. Estava triste e pensativo.
Entrei em um bar de uma dessas ruas, desses onde homens feios e peludos comem torresmos e bebem cachaça, riem de boca cheia e assistem ao canal de esportes. Pedi um cigarro solto, estava amassado e era de uma marca completamente desconhecida. Acendido o veneno, voltei para os pingos ventosos que consumiram o tabaco muito mais rápido do que eu. E volvi também para meu caminhar filosófico.
Pensei na vida, na morte, nos amores, nos corpos, nos seios e nos olhos. E dentro dos olhos, e na inocência, e na clemência que pediria se por ventura meu sangue cético acreditasse em alguma divindade.
A melancolia traz tanto à mente.
Era um domingo de matiz azul marinho, o mais triste entre tempos e tempos.
Foi quando avistei, entre uma poça imunda e a sarjeta, uma cabeça de palhaço, suja de terra e carcomida pelo asfalto, pelo tempo, pelos olhos das crianças que resolveram desprezá-lo para sempre.
Não pude pensar em mais nada e sozinho externalizei:

- A sua piada não tem mais graça, não é mesmo, amigo?

E no seguir dos passos pensei que a vida para palhaços de plástico seja sempre uma velha anedota que não tem mais graça, mas que quando contam temos que esboçar um sorriso falso.

Grito Número Cento e Dezesseis:

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

SOBRE UMA RARIDADE QUE ENCONTREI NA FEIRA DO BIXIGA


As batidas eram os suaves e velozes acordes dos chorinhos paulistanos de domingo de manhã. Meu suor cheirava a café. O sol não castigava minha pele, mas também não era ameno.
Comia um pastel de palmito no Bixiga, próximo a uma conhecida cantina italiana que existe por ali e olhava livros velhos, móveis velhos, brinquedos e pessoas velhas. Senti vontade de comprar alguns cachimbos antigos, ainda que achasse difícil fumar neles, prefiro cigarros, cigarrilhas e charutos, que são fáceis de controlar o começo e o fim do tabaco.
E quando selecionava alguns exemplares da histórica e legendária "O Tico Tico", encontrei meu coração à venda, todo empoeirado e pisoteado por bisontes, como se o tivesse guardado no meio de uma rua de Pamplona em pleno Festival de São Firmino.
Mas o mais triste de tudo isso, que mesmo o olhando com todo carinho e saudade, ele custava caro demais, muito mais do que os tostões que tinha em meus bolsos.

Grito Número Cento e Quinze:

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SOBRE IRMOS TODOS CIRANDAR

Todo os dias, depois de alguns minutos no metrô, me sento em uma cadeira no curso e começo a estudar. E me transformo em físico, em químico e biólogo. Sou gramático, matemático e até quiroprático, quando massageio minhas próprias costas, no momento em que a posição de leituras e cálculos começa a incomodar a nuca.
Quando me canso dos polígrafos, canetas e equações e preciso tomar um trago de ar, olho a decoração nas paredes daquela sala de estudos. Parte são tabelas periódicas dos elementos e mapas-mundi, porém, próximo a estes existem algumas reproduções de obras de arte, e bem ao lado de "Violino e Guitarra", do cubista espanhol Picasso existe a obra que mais me chama a atenção naquela saleta. Como sou entusiasta e amante das artes, ao olhar para a pintura já me recordei de seu título e de seu autor: "A Dança" de Henri Matisse.
Desde então, sempre finjo que aquele quadro seja uma pequetita janela em que posso fitar o mundo exterior. E pensei, desde a primeira vez que vi aquela janela falsa, que por trás destes ossos cansados que estão lutando para se mover, existe uma esperança maior, pois lá fora o céu sempre estará azul de tinta fresca e as gramíneas verdes como a tal "esperança maior" que acabo de citar.
E por fim, mesmo desnudo e descalço haverá motivo para se dançar ciranda.

Grito Número Cento e Catorze:

terça-feira, 16 de agosto de 2011

CHEGOU O MOMENTO DA CANÇÃO APARTIDÁRIA (PELA ÚLTIMA VEZ) !
O quixotesco homem de bem
Fala do cenário da política nacional
Papagaio pobre repetindo
O que os porcos pagam para estamparem no jornal.

Quando a bandeira preta surgir
Emergida do esterco que engolimos
O último crânio coroado sera coberto
E queimado pelo povo então violento
Sem sobrar cinza, para servir de exemplo.

Quantos cavalos de Tróia irão assustar
Os satélites filmam seus movimentos
Não deixaram barato
Universo plagiado do 1984
O equino é de madeira, amigo, VAMOS QUEIMAR!

Temido, não amado
Amado, não entendido
O porco de terno não é seu amigo
Ele vai foder você!
Vai foder você!

A mais bela e apátrida violência
Veio a tona para desmentir
Queima os cartazes sem clemência
O edifício do reino está a ruir.

OS RATOS ROERÃO AS ROUPAS DO REI DE ROMA!

Junto com mil engravatados
Renasce a madame justiça, vítima de estupro
No garrote vil de cada membro do senado
Contemos os corpos, calculemos o lucro.

Grito Número Cento e Treze:

ENTRE SEBOS E WEBSITES
o futuro do livro no século XXI

"Uma nação se constrói com homens e livros", já dizia o escritor brasileiro Monteiro Lobato. Desde o momento em que se popularizou, com a invenção da imprensa por Gutemberg, o livro tornou-se o bastião do desenvolvimento intelectual, técnico-científico e por consequência, social, além de eternizar a história e imortalizar clássicos importantíssimos. Pode o livro, no formato que o conhecemos hoje, perder seu posto para novas tecnologias?
A opção de um aparelho digital de leitura permite ao seu detentor carregar consigo uma biblioteca na palma de sua mão, cativa o potencial leitor a ser portador de tal facilidade. Bem como, o fácil acesso a obras raras ou gratuitas de livros também são pontos positivos, permitindo ao leitor obter uma gama infinita de algo, que em séculos passados, já foi queimado, condenado e até mesmo transformado em armadilha, como nas páginas envenenadas de "O Nome da Rosa", de Umberto Eco.
Contudo, não há facilidade que substitua o sentimento de orgulho de se olhar uma estante repleta de material responsável pela construção de um caráter, intelecto ou até mesmo de uma infinidade de emoções e diversões. É dificil contrapor a alegria de sentir a textura do papel, em todos os seus tipos, sentir o prazer de adquirir um livro novo ou de sentir o cheiro de livros antigos, com a facilidade de dispor de informação rápida, quase que instantânea.
Por fim, ainda que hodiernamente se presencie uma revolução tecnológica por dia, assim como é possível se emocionar com Chaplin na era do cinema tridimensional, o livro é um objeto que irá coexistir com novas tecnologias, pois os amantes de um bom e velho vernáculo, desde Homero até Bukowski, continuarão a fazer demanda, ainda que haja a opção de obtê-los "a um clique" de distância.

Grito Número Cento e Doze:

sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Era junho e um dia quente como um fiapo das chamas do inferno. Minha testa sustentava gotículas de suor indesejadas para quem apenas havia iniciado o dia.
Desembarcado na estação Paraíso do metrô paulistano, pegaria um ônibus que passa de hora em hora na Bernardino de Campos, com minha falta de sorte esperaria em torno de cinquenta minutos, de acordo com um ambulante.

-Passou "num faz nem dez minuto", xará!

Sob um sol castigador, me recolhi embaixo de uma árvore próxima ao ponto de ônibus e me pus a esperar impacientemente pelo bendito comboio. E o tempo não passava, diferente dos diversos ônibus com itinerários adversos do que eu aguardava, já sem nenhuma paciencia.
Uma brisa repentina refrescou a minha espera inquieta e dissipou a minha tensão causada pela hiperatividade e impaciência. Ficou resolvido que aquele seria um instante para descontração. Tomei aos dedos um cigarro que não pude acender. Estava sem isqueiro ou fósforos.
Tentei comprar qualquer poder de fogo com o ambulante, mas o tal não tinha nada além de amendoins e garrafas d'água à venda.
Foi quando apareceu uma mulher de cabelos curtos e boina negra, de coxas grossas e desnudas como as de um zebrino, lábios grossos e irreverentes, quadris largos e uma barriga completamente fora dos padrões hodiernos de beleza, tinha um pequeno ar pueril em sua postura.
Ela se parecia com um nu de Modigliani que nunca recordo o nome, mas que guardo as cores na memória. Simpatizante da minha tentativa que acender o tabaco entre os dentes, me ofereceu seu isqueiro. Gostaria de dizer que sua voz era doce, bela ou coisa que o valha, mas a verdade é que não me lembro mais.

- Aqui está. Pior ter cigarros e não ter como acender do que ter o isqueiro e não ter os cigarros.

Respondi apenas sorrindo um dos sorrisos mais francos que dei em toda minha vida. Seu rosto era lindo confrontando os raios do sol, cerrava os olhos para me enxergar, também abaixava um pouco a cabeça, pois era uns dois palmos mais alta que eu.
Nos fitamos por meio segundo, que acabou por parecer quinze minutos, ela soltou a fumaça de seu cigarro e disse.

- Me chamo Sofia.

Pensei em mil coisas bonitas para dizer acerca de seu nome. Que significava sabedoria, pensei em brincadeiras para fazer relacionadas à obra "O Mundo de Sofia", mas fui interrompido com seu olhar penetrante.
Ela me fitou com um olhar inesplicavelmente cativante e sensual, livre de qualquer vulgaridade. Eu senti vontade de beijá-la, de rasgar suas roupas e possuí-la no ponto de ônibus e depois a pediria em casamento e criaria nossos filhos e cães, poderia ser ali mesmo, na Bernardino de Campos.
O cigarro havia queimado apenas umas poucas tragadas quando o meu ônibus chegou. E fui estúpido o suficiente para subir nele. Sofia me olhou sorrindo através da janela com uma expressão de "c'est la vie". Sua silhueta foi ficando pequena enquanto o ônibus se afastava de sua figura.
E amei esta mulher, que nunca soube meu nome, por todos os dias até seu semblante se dissipar de minhas memórias como a fumaça de nossos cigarros. Uma das mulheres mais importantes de minha vida foi uma tal Sofia, que está pelas ruas de São Paulo, acendendo cigarros e nem sabe o nome, ou mesmo da importância na vida deste velho.

Grito Número Cento e Onze:

terça-feira, 9 de agosto de 2011

CINCO MINUTOS PARA UM CAFEZINHO


Estacionei, pois vou decolar daqui alguns momentos.