Grito Número Cento e Quarenta e Nove:

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VOLVER

A neve me faz adormecer na trincheira. 
Eis que chega a solidão no ataque.
Munida de baioneta, tabaco e conhaque.
Espeta meu peito e diz que não haverá esperança.

Sem clemência.
Sem tempo ou paciência.
Vou defianhando.
E quando quase agonizando,
E nos meus erros pensando, 
Chega aos ouvidos uma doce voz
Que diz que não preciso mais estar só.

E a voz me revigora.
E meu peito que até então chora
Me mostra que depois do negro agora
Pode vir manhã clara

Mas volta a noite para minha trincheira
E mais forte e derradeira
Volta camuflada a solidão
Me toma a mão e me leva mais uma vez ao trapo.
E à baioneta, ao conhaque, tabaco. 



Grito Número Cento e Quarenta e Oito:

MESSIAS TORTOS

Filosofia vã, crença barata em deus morto
Quero crer, mas não vejo fé, nem mesmo em mim
Minha face carrega o resto do corpo
Em um barco ou em um copo com fósforo ou gim

Ser o poeta da carne, o escritor maldito
Por isso fugir, por isso aflito
Por isso superar
O limite entre céu e mar

(O horizonte está torto)

A maleta, o chapéu
O cachimbo, o pincel
A batalha contra o eu
E as estrelas gritando no céu

(-Esquiva do gancho, pega o canalha!)

E assim, que toda fé (ou falta dela) se esqueça
Pois tudo faz sentido
Quanto tudo além do umbigo
Está de ponta cabeça

(E isso continua a não ser um poema.)

Grito Número Cento e Quarenta e Sete:

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

UM TROFÉU PARA UM FILHO DA PUTA


Estive percebendo a falta que me faz uns toques da minha antiga vida. Da nossa antiga vida.
Me faz falta correr no meio da noite até um posto de gasolina para voltar com uma sacola de cervejas, claras para mim, escuras para você. Sinto saudade do seu controle dos momentos em que devo ou não acender um cigarro. 
Sinto a falta de escrever os meus textos à meia-luz enquanto você repousa depois do sexo. Sinto falta do cheiro do nosso quarto depois do sexo. É claro que a quantidade de sexo também faz muita falta. 
Às vezes finjo que estou lendo para lembrar de umas trepadas colossais. Outras vezes, cheiro o meu antebraço finjindo que são suas costas. Me sinto patético e solitário nessas ocasiões. Como uma árvore do cerrado brasileiro: isolado e torto.
É engraçado ver que ao decorrer do tempo amadurecemos; mudam-se os costumes, os gostos e o jeito de viver. O semblante matura e o olhar para o mundo também. Mas o amor não tem escolha, ou fica jovem para sempre ou definha como uma flor daquelas que umas velhas vendem na volta das bodegas, o famoso "troféu-de-puta". E sei que o amor que sinto está jovial, afinal, eu busco isso, sempre vou buscar ser o amor mais puro que existe.
Foi então que, pensando em tudo isso, nas faltas, ausências e "troféus-de-puta" murchos que me dei conta que estou rejuvenescendo.
Meu caminho foi retrocedido e voltei no tempo. Voltei para a fase de ter hora para voltar para casa, de resolver problemas matemáticos que não tem relevância, nem utilidade para mim e para mais uma gama infinita da população do mundo. E estando eu jovem como anos atrás, estou fazendo malabarismos com um amor maduro. Parece que esqueci como lidar com isso. 
Elefante bêbado em loja de cristais. 
Filho da puta em dia dos pais.
E pode parecer que eu disto quando o assunto é o tal do "troféu-de-puta" murcho, mas a verdade é que os espinhos dessa flor do caralho doem muito mais do que qualquer puta desse mundo (ou filho dela) pode imaginar.

Foto por ElectricSixx

Grito Número Cento e Quarenta e Seis:

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

LACÔNICO

lacônico | adj.
(latim Laconicus, -a, -um, da Lacônia)
Breve, conciso; em poucas palavras.

Fiz uma poesia com mais de uma centena de versos duodecassílabos, rimas ricas e chave de ouro no final.
Com nanquim e pena passei para um papel fino e imponente, do preço por folha prefiro nem tecer comentários.
Quando lhe entreguei, recebi um tépido "que lindo".
Outro dia, depois de uma discussão filosófica no bar, entre bebidas e petiscos, brigamos feio.
Entreguei a ela um guardanapo de papel amassado, escrito à esferográfica (daquelas que ficam perdidas nas bolsas e bolsos):

"É amor, e ponto."

Ela me sorriu um sorriso desconcertado, inocente e lindamente incandescente (e ganhei o que queria com pedaço de guardanapo amassado).

Grito Número Cento e Quarenta e Cinco:

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SOBRE TIRAR LIÇÕES DE FORÇA NO ASSASSINATO DE RASPUTIN

Sempre que leio, me espanto com o assassinato de Grigori Rasputin. De conselheiro do Czar a presunto russo.
Segundo a lenda, o poder de hipnose e controle da mente do místico de Petrogrado (atual São Petersburgo) era tão forte, que mesmo após se empanturrar com um jantar envenenado, não sentiu nem mesmo um mal-estar. Há quem diga que uma úlcera no estômago o salvou, mas a versão do controle da mente é mais interessante e instigante.
Após a tentativa falha de ser envenenado, fora fuzilado com onze tiros, que ainda assim não foram suficientes: o homem levantou.
Cansados e apavorados, espancaram-no até Rasputin ficar inconsciente, quando o jogaram desmaiado e de mãos atadas nas águas gélidas do rio Neva. Assim, não há poder da mente que aguente. O poder da mente era agora um pequeno pedrisco de gelo.
Não sei o quanto disso é lenda e quanto é fato. Não importa, o que vale é pensar no vigor e na força do personagem, e só. Um personagem ímpar e inabalável, nem mesmo por veneno ou tiros de fuzil.
E eu sofrendo por algumas palavras que me foram ditas...