UM TROFÉU PARA UM FILHO DA PUTA
Estive percebendo a falta que me faz uns toques da minha antiga vida. Da nossa antiga vida.
Me faz falta correr no meio da noite até um posto de gasolina para voltar com uma sacola de cervejas, claras para mim, escuras para você. Sinto saudade do seu controle dos momentos em que devo ou não acender um cigarro.
Sinto a falta de escrever os meus textos à meia-luz enquanto você repousa depois do sexo. Sinto falta do cheiro do nosso quarto depois do sexo. É claro que a quantidade de sexo também faz muita falta.
Às vezes finjo que estou lendo para lembrar de umas trepadas colossais. Outras vezes, cheiro o meu antebraço finjindo que são suas costas. Me sinto patético e solitário nessas ocasiões. Como uma árvore do cerrado brasileiro: isolado e torto.
É engraçado ver que ao decorrer do tempo amadurecemos; mudam-se os costumes, os gostos e o jeito de viver. O semblante matura e o olhar para o mundo também. Mas o amor não tem escolha, ou fica jovem para sempre ou definha como uma flor daquelas que umas velhas vendem na volta das bodegas, o famoso "troféu-de-puta". E sei que o amor que sinto está jovial, afinal, eu busco isso, sempre vou buscar ser o amor mais puro que existe.
Foi então que, pensando em tudo isso, nas faltas, ausências e "troféus-de-puta" murchos que me dei conta que estou rejuvenescendo.
Meu caminho foi retrocedido e voltei no tempo. Voltei para a fase de ter hora para voltar para casa, de resolver problemas matemáticos que não tem relevância, nem utilidade para mim e para mais uma gama infinita da população do mundo. E estando eu jovem como anos atrás, estou fazendo malabarismos com um amor maduro. Parece que esqueci como lidar com isso.
Elefante bêbado em loja de cristais.
Filho da puta em dia dos pais.
E pode parecer que eu disto quando o assunto é o tal do "troféu-de-puta" murcho, mas a verdade é que os espinhos dessa flor do caralho doem muito mais do que qualquer puta desse mundo (ou filho dela) pode imaginar.