Grito Número Cento e Dois:

quarta-feira, 22 de junho de 2011

OI, TUDO BEM?

É quase uma regra sair de casa e se deparar com a pergunta: "tudo bem?". Já é um vício das pessoas perguntar ao invés de acenar ou dar um simples "bom dia". Isso quando ainda não se emenda o cumprimento com a pergunta.
A questão é que normalmente as pessoas não querem saber dos problemas dos outros. Outro vício das pessoas é responder ao "tudo bem?" com "tudo".
Mas se for dito "não está nada bem", "estou de saco cheio desta vida" ou "estou triste" o semblante de quem pergunta é de surpresa, pois é uma fuga da resposta esperada e tradicional, isto porque, na verdade, ninguém que saber.
Existe uma necessidade em cada um de nós de estar bem, de vencer cada dia como se fosse uma partida de pôquer ou um jogo de xadrez. Mas somos apenas uma das maltitas peças! Arriscando nosso pêlo por um rei de madeira. Somos peões estúpidos. E nessa luta de estar bem para conseguir, é raro eu conseguir estar bem. E sei que no fundo, os outros peões estúpidos também não conseguem.
Em meu peito há um ninho de repleto de passarinhos abandonados que morrem de fome porque mãe voou para longe, uma dor de saudade de estar no meu ninho quente. Saudade dos prédios de metrópole e do som da dança dos dias que me encanta bailar. Em meu peito há uma lágrima acrílica marcando o dia em que perdi minha inocência, destruí meus sonhos e quase tudo que amava. E no peito de cada peça desse xadrez maldito haverá tudo isso também, porque isto não é o luxo de artista do lixo da viela suja que sou eu.
Permanecemos no mesmo lugar, como uma estátua de Rodin, esperando desesperançosos, aguardando o momento de poder dizer que a resposta "tudo bem" é a mais pura verdade.
Meu café secou no copo de tanto esperar, bem como a bebida do leão que aguarda sua coragem e do espantalho que aguarda um cérebro, até as engrenagens do homem de lata que aguarda um coração enferrujaram. E nessa jornada pela busca de estar bem, através de uma estrada de tijolos amarelos em que se caminha descalço, o estar bem nunca chega. Mas, quem sabe, um dia em algum lugar depois do arco-íris, eu perceba que sempre estive bem porque a própria busca me fez.



4 comentários:

Mateus Cordoba disse...

Realmente isso me agoniza. "Oi, tudo bem?" pergunta um. "Tudo.", responde outro. Odeio esse estranho diálo, mas eu mesmo pratico! Acho um absurdo tudo isso! Parabéns, gostei muito do post!

Thales disse...

Ótimo post (e melhor música do Garotos Podres)!

Monique Burigo Marin disse...

A admiração que tenho por ti é crescente!
O final me fez lembrar de um antigo texto que escrevi no blog: "Procura-se uma Estrada de Tijolos Amarelos".

Patrícia Müller disse...

Esse costume do 'oi, tudo bem' já está enraizado em mim o.o