Grito Número Setenta:

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Parábolas Inaplicáveis


Eu sempre ouvi, desde pequeno, o dogma de oferecer a outra face e sempre achei essa estória bonita.


Mas oferecer outro coração será sempre impossível.


Munch - Madonna (1894-1895)
Noruega - Oslo - Galeria Nacional

Grito Número Sessenta e Nove:

sábado, 15 de janeiro de 2011

Ascensão e Queda em Três Pequenos Sonetos


I

Mastigo e engulo com calma todo o desdém
Cerro os olhos e com a palma da mão
Sussuro bobagens e digo amém
Mas não peço mais pão

Serradas as mãos e a tampa dos joelhos
Sobrou somente a ironia
E seus olhos vermelhos
De toda ira maldita que sentira

Intolerância, descaso
Militância, acaso
Descobriu então que não havia nada depois do portão dourado

Sentou-se então e jogou solitário
Paciência com seu imaginário baralho
Nunca pode apostar além de migalhas e tostão furado

II

Espalhou-se no ar pela brisa do mar
O que nunca mais iria olhar e sentir
Não havia mais o que procrastinar
Nunca existira tudo aquilo do porvir

Na cova de lobo fez sua desventura
Sem mais crer naquilo que apura
Sobrou mais de seu próprio desdém
Tornaram-se palavras somente

Esquivou-se do ódio e das pratas de Judas
Mas agarrou-se as cordas e fez mil viúvas
Não havia mais motivo a quem ser temente

Fizeram passeatas de velas brancas e mudas
Cânticos por vozes de crianças miúdas
Não o levarão para além do poente

III

O castelo de cartas veio a ruir
Sem monstros que dragam
Sem leão manso que se impõe ao rugir
Sem feridas que pagam

Não sobrou o que imaginara
Apenas as vias de adaga
Sobrou o caminhar que nunca para
Malvindo sois vós que tem a praga

Mudos, surdos e esqueléticos
Mergulhou nas nuvens vagarosamente
Mas eram apenas pensamentos

Nas estrelas dos homens proféticos
Seu firmamento indigesto me propunha a salvação respeitosamente
Mas provou-se que trava-se de terrenos momentos

Grito Número Sessenta e Oito:

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tudo o que aprendi com um álbum negro.




Estou aqui há anos e muitos me acompanham às maldições. Geração de degenerados de valor.
Parecia estagnado e destruído, mas a força sempre retorna às lâminas empunhadas com vigor.
Não estarei mais parado vivendo outras vidas, a lâmina negra resguarda a paz doente em seu leito, sem aceitar suposta morte.
E da lâmina negra se movem os cancros e heranças malditas que brotam da paz convalescente.
Sempre da luta surge o ânimo sagaz, que busca mais sangue de porco para beber.
Vamos queimar todo o torpe maldito e todos os símbolos que nos fazem mal.
Contudo sem deixar jamais de olhar as estrelas e sonhar por segundos.
Contudo sem deixar passar aos olhos toda vigarice podre que este mundo nos deu.
Contudo sem deixarmos as pequenas crianças de nosso espíritos despencarem do abismo escondido em campos de centeio. Seja o apanhador.
Respire a poesia que o campo de centeio lhe oferece.
Contudo sem perder o orgulho que lhe resta.
Principalmente quando existir vontades súbitas de apagar a luz e ir embora para um lugar qualquer. Pois mesmo com luz apagada, sempre haverá uma tal chama que nunca se esvai.



Grito Número Sessenta e Sete:

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre a morte, pura e simplesmente...

Eu sei que ela aparece qual cisne negro de asa aberta sobre os lagos frios do norte.
E entendo que ela é o fim, que trata-se do apertar do interruptor que irá além do
apagar da luz, irá queimá-la para sempre.
E seria, de fato, confortável, pensar que haveria lugar onde sempre toda luz nunca se
apagasse. Com verdes campos, flores brancas, crianças ruivas na beira de lagos observando as circunferências resultante dos pedregulhos por elas lançadas.
Mas isso não existe em meu peito e isso aflige aos que a minha volta escutam meu coração verdadeiro, pueril e nada sutil.

O que sobrara daquele pobre coração trucidado pelos comboios?

O que o homem deixou de rastro, já que a alma não traz nada?

O que pensou a moça no momento em que o cisne negro a envolveu em suas asas e a beijou
de forma tenra e inexorável?

Será que agora habitam algum lugar secreto ou será que a cortina desceu e os atores
deste espetáculo, ora belo, ora grotesco, ora patético, ora simpático, se aposentam?
Será que se exilam num castelo rochoso inacessível?
Pois confortável seria se o fosse, mas é só estalinho da ponta do disco de vinil
anunciando a hora do silêncio e o fim da melodia.

E o cisne voa só pelo horizonte avante...

Hoje uma parte de mim que eu não me importava está morta.
Ainda não me importo, mas me faz pensar no que deixo para este mundo.
Pelo menos uma dúzia de palavras que para alguém baste.


Xeque-mate.

Grito Número Sessenta e Seis:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sobre as próximas doses desejadas...
Nossa, como eu quero no ano vindouro me embebedar! 
Embebedar de Hemingway, Bukowski e Jostein Gaarder. 
Embebedar de Chaplin, Tarantino e conseguir intercomunicar os dois.
Tão ambíguos e polivalentes.
Quero me embebedar com artigos científico-jurídicos, me embebedar de teoria. 
Mas eu já estou vomitando há anos. 
Porém, sempre insisto em mais uma dose. A dose me nutre em pequenos ciscos, antes de mais um jato de vômito botar tudo pra fora. 
Chegou a hora da ressaca, de sentir os efeitos da última bebedeira. Ficar estático ou invés de extático, e esperar as minhas aspirinas chegarem pelo correio. E quando passar toda zonzura, já estão me esperando mil garrafas na estante para voar.
Para o alto e avante, sempre. 
Mais uma dose, sem gelo, por favor. 

Grito Número Sessenta e Cinco:

terça-feira, 4 de janeiro de 2011


Os Mundos dos Livros