Um Dia Qualquer
E passam os dias iguais, tão malditos, e ficamos parados mascando vidro.
Não sentimos sabores, mas sentimos a dor.
E a rotina e o tédio são leis que nem tentando conseguimos burlar.
Mover a rotina pro inferno.
Mover o inferno para longe de mim.
As letras dos livros tremem e não me deixam ler.
As luzes piscam sozinhas e o mofo na parede cresce.
Não vai dar tempo de almoçar, como um pão com qualquer coisa no caminho.
Minha tosse oscila a frequência.
Mando o novo acordo ortográfico para o inferno.
Trabalho, rotina, sufoco.
São seis e quarenta, tenho que levantar.
Ponto eletrônico, catraca, suor.
Disco novo da banda.
Fobia de assalto.
Jogos eletrônicos de primeira e última geração.
Indiferença e masoquismo em perguntar que horas são.
Querer ir para casa sem saber onde eu moro.
Não pertencer a lugar nenhum.
O fulano apareceu, finja estar interessado nesse papo idiota.
Seja sintético.
Perdi minhas chaves. Não, estão no bolso da outra calça que rasgou.
Será que eu estou louco?
Pisar em merda de cachorro.
Querer esfregar a cara do vizinho no asfalto e fazê-lo estacionar o carro em outro lugar.
Analisar o arame farpado e se sentir atraído por ele.
Metal enrolado para fazer coação.
Surtos de madrugada, insônia.
Grilhões mentais.
"Você tem escápula alada", diz o médico.
Vou pedir tomografia e ressonância da coluna cervical.
Mais grilhões mentais.
Cadafalsos mentais.
Onde estacionei o carro?
São cinco e meia tenho aulas optativas.
Suicídios virtuais.
Indiferença e pontos finais.
Sem vírgulas nunca mais.
Para onde eu vou depois, se eu nem sei onde estou agora?
Grito Número Trinta e Cinco:
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Postado por Dan Arsky Lombardi às 18:33
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3 comentários:
Muito bom mesmo Dan, essa angústia que só essa rotina miserável pode nos oferecer.
E o individualismo nos leva a mais e mais grilhões mentais, niilismos, desistências, que geram mais pontos finais, em um sistema de desistências pré-programados.
Registrar é bom para (re)ler; encontrar-se nos outros ou nos outros que estão em nós; alavancar pontos-e-vírgulas; para depois vírgulas, sonhos, reciprocidades - que finalmente poderão construir frases contínuas e sem fim...
Em tempo: ótimo poema.
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