DORIAN GRAY PERDEU A GRAVATA
Levei meus últimos livros de direito civil, financeiro e criminal para o sebo, troquei por uma edição de Dorian Gray e um lote de histórias em quadrinhos. Aqueles livros me sufocavam mais do que o cheiro de mofo e naftalina naquele sebo. Aquele momento era o marco de abandonar a carreira jurídica em potencial para lidar com livros, arte e aquilo que me injeta ânimo. Já não tinha mais nas mãos a possibilidade de saber sobre as leis e os crimes. Entre os caminhos certos da direita e esquerda, saí voando acima dos rochedos.
O novo era o velho e o velho novo, de novo.
E quando lembro da sensação, penso que poderia ter matado uma pessoa.... Enrolado o pescoço do filho da mãe com meus dedos e apertado aquele pescoço branco até os olhos pularem para fora das órbitas. Eu poderia ter cometido tal crime e cometi. Estava grávido e abortei um advogado filho da puta. Feto no chão, deformado, vil. Pisei em cima enquanto a coisa rastejava, que, tentando alçar a lombada do Damásio de Jesus, não mais se moveu.
- Nem esse, nem nenhum Jesus vai te ajudar, filhote de rato!
Trocar esses livros me levou a pensar que, de fato, os livros moldam o caráter daqueles que os leem. Sacrifiquei minha gravata de advogado em troca de ser jovem para sempre, como o jovem Dorian, ainda que custe o nobre retrato que adorna a parede e o ego do dono.
3 comentários:
os livros são o que nós somos, meu caro. essa é a verdade.
até.
bjo, bjo, bjo...
Quando tento matar a publicitária, ela é mais astuta que eu e vira a mesa...
Ótimo texto!
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