LEMBRAR DE MIM, TODA VEZ QUE RESPIRAR, LEMBRAR DE MIM, SE EU NUNCA MAIS VOLTAR
É pateticamente óbvio, mas eu já fui um menino. Tentava forjar uma barba cartunesca e tinha pôsteres na parede. Chamava meu quarto de "O Calvário" e queimava mentolados olhando para as estrelas, debruçado na janela.
Hoje, a barba está mais grossa, larguei o tabaco e no quarto, agora chamado apenas de "quarto", não tenho nada na parede que não esteja em uma moldura. A constante "cachaça com soda" da alegria deu lugar ao esporádico conhaque da melancolia. Minha dezena de furos na orelha estão fechados e meu cabelo está curto, com sua cor natural e uma mecha pequenina de fios brancos de lambuja.
Mas ainda olho as estrelas de quando em vez. Ainda suspiro muito, talvez até mais do que antes, e ainda digo "ai, ai", com uma tépida ternura, depois de suspirar, como se eu sentisse todas as dores do mundo e sorrisse para elas, tal e qual velhos amigos de boteco.
Nesse tempo de menino, sonhava em viajar para o futuro, para visitar a mim mesmo e sondar por onde andariam meus passos. Hoje, eu só penso em voltar e me dar um abraço forte.
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