Grito Número Cento e Cinquenta e Sete:

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

GUERRA E PAZ

Guerra e Paz (1952-1955) - Cândido Portinari - Sede da ONU, New York - USA

PAZ

O trabalho
A criança
A foice suada
A balança
E o cavalo na dança
Marcha com confiança
De que escuta uma canção
O povo lindo
Pintado sorrindo.

GUERRA

Enquanto de outras fronteiras
Mulheres, crianças, aldeias
Aos gritos, aflitos
A armadura, vergonha
A tortura, tamanha
E na cova-de-lobo os restos em espetos
Enquanto as bocas dos lobos trucidam
Um povo cansado, esgotado
Afogado nas poças vermelho-carmim
Pintado arfando, orando, pedindo por fim.

Grito Número Cento e Cinquenta e Seis:

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"POR FAVOR", O MOLOTOV

Desde sempre me identifiquei com diversos elementos da contracultura: nas artes plásticas, na música e nas atitudes e no modo vanguardista de pensar. E de certo modo parte dessa gama ajudou na construção do meu caráter atual.
Uma das secções que mais aprecio e me idenfifico é o punk, não há como negar que isso faça parte de quem eu sou. Gosto de quase tudo que foi parido pelo punk: de hardcore, pós-punk, metalcore e de outros gêneros alternativos que tenham um salpico de tendência da moicanada do final da década de 70.
Sempre admirei a postura político e o modo escrachado e tosco de se expressar. O ato de cuspir (n)aquilo que é intragável na sociedade. E criticar os costumes, ridendo castigat mores, simplesmente fazendo diferente, com um alfinete na orelha e um cabelo espetado já se tinha o bastante para criticar o mundo e tentar mudá-lo.
"Mudar o mundo" sempre será bonito, mesmo no dia que o mundo dispense mudanças.
Mais de trinta anos passados do fatídico ano de 1977, depois do Ramones, do Clash, do Ratos de Porão, do Inocentes e de todas as outras "desgraceiras" terem gritado as palavras da desordem e da mudança. Hoje essas palavras musicadas em poucos acordes tornaram-se hinos para alguns, mas não surtem mais o mesmo efeito chocante de antes.
Hoje o baixo calão e o desdém imperam no cotidiano. Do esbarrão no trem ao táxi roubado de alguém que estava na frente, nas furadas de fila e no funk dos celulares.
Hoje em dia, valer-se da educação, da construção e defesa dos direitos dos sem voz é o novo "destruir e contestar", é a nova face da contracultura, visto que contracultura é o inverso do popular.
Dizer "muito obrigado" é um dos maiores protestos do século XXI, enquanto "por favor" é o novo molotov.
ATACAR!

Grito Número Cento e Cinquenta e Cinco:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

CABEÇAS COMO AS DE BAIXO (OU UMA IDEIA EXCITANTE)

Sempre desenvolvo a vã filosofia enquanto espero para atravessar a rua. A luz vermelha que me impede de correr pelo asfalto e morrer atropelado sempre ilumina minha mente com pensamentos insanos.
Outro dia, parado frente à faixa de pedestres pensei que a criatividade é como uma ereção repentina. Pode-se utilizá-la no ato e abusar de sua espontaneidade, e, com isso, ser feliz por quinze minutos ou menos (ou se arrepender por algum tempo).
É o momento de escolha entre amar demais ou sofrer por fazê-lo.
Ainda pode escolher o caminho de deixá-la ali, rija e latejando, incomodando até ir embora e voltar em uma hora mais oportuna, à noite, por exemplo. Mas na hora oportuna, ela deixa de ser espontânea e perde
aquele aspecto sentimental e animalesco.
E daí entrou outra comparação, pensei que ter a melhor das ideias, não colocá-la no papel no ato e perdê-la na mente é como lidar com criatividade: pode ser broxante.

Grito Número Cento e Cinquenta e Quatro:

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O HOMEM SEM NADA


Outra folha de papel rasgada
Mais uma marcação no calendário
O tempo borra a visão do escafandro
E você não tem nada na mão!

Mais uma feição envergonhada
Mais uma vez o brado de falsário
Um homem está se tornando
Mas trata-se de um homem sem pão!

Isso tudo irá passar
As lágrimas vão secar
É só mais uma pequena decepção!

E quando o nada se evidenciar
Ou a medalha imaginária se apagar?
Será só mais um vexame na minha coleção?