Grito Número Cento e Cinquenta e Seis:

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"POR FAVOR", O MOLOTOV

Desde sempre me identifiquei com diversos elementos da contracultura: nas artes plásticas, na música e nas atitudes e no modo vanguardista de pensar. E de certo modo parte dessa gama ajudou na construção do meu caráter atual.
Uma das secções que mais aprecio e me idenfifico é o punk, não há como negar que isso faça parte de quem eu sou. Gosto de quase tudo que foi parido pelo punk: de hardcore, pós-punk, metalcore e de outros gêneros alternativos que tenham um salpico de tendência da moicanada do final da década de 70.
Sempre admirei a postura político e o modo escrachado e tosco de se expressar. O ato de cuspir (n)aquilo que é intragável na sociedade. E criticar os costumes, ridendo castigat mores, simplesmente fazendo diferente, com um alfinete na orelha e um cabelo espetado já se tinha o bastante para criticar o mundo e tentar mudá-lo.
"Mudar o mundo" sempre será bonito, mesmo no dia que o mundo dispense mudanças.
Mais de trinta anos passados do fatídico ano de 1977, depois do Ramones, do Clash, do Ratos de Porão, do Inocentes e de todas as outras "desgraceiras" terem gritado as palavras da desordem e da mudança. Hoje essas palavras musicadas em poucos acordes tornaram-se hinos para alguns, mas não surtem mais o mesmo efeito chocante de antes.
Hoje o baixo calão e o desdém imperam no cotidiano. Do esbarrão no trem ao táxi roubado de alguém que estava na frente, nas furadas de fila e no funk dos celulares.
Hoje em dia, valer-se da educação, da construção e defesa dos direitos dos sem voz é o novo "destruir e contestar", é a nova face da contracultura, visto que contracultura é o inverso do popular.
Dizer "muito obrigado" é um dos maiores protestos do século XXI, enquanto "por favor" é o novo molotov.
ATACAR!

3 comentários:

Iguimarães disse...

Ser educado é revolucionário.
Fica imaginando o que será revolucionário em 2050.
Ótima visão,não sou muito punk em visual,mas admiro muito as idéias.

Monique Burigo Marin disse...

Muito me interessam as tribos urbanas, suas formas de expressão, suas interpretações do mundo.
O punk não existe mais, não como no princípio. O punk inglês, pobre e revolucionário, que se vestia com aquilo que encontrava no lixo e chocava as classes “superiores” com a sua aparência, está morto. Hoje, os “punks” montam-se em lojas caras.
Por outro lado, a atitude punk ainda vive, mesmo que de forma isolada, em manifestações, em gritos mudos, em ideais. Vive na música, na literatura, na história. Embora muitos valores e, em especial, a imagem do punk tenha se distorcido.
Hoje, o punk está tão difundido na moda que é necessário separar as coisas. Talvez o punk esteja vivo onde menos se espera que esteja. Em uma moça de aparência angelical ou em um idoso de aparência frágil.

gui disse...

pois é, monique. uma coisa que sempre acontece com o que um dia já foi chocante aos olhos dos conservadores é adaptá-la aos seu próprios costumes. como a imagem de che guevara virar camiseta de qualquer pessoa; ou gandhi ser apenas um símbolo de pacifismo, esquecendo que ele foi um grande ícone da resistência ao imperialismo britânico. o mesmo se aplicou ao punk, aonde agora até o disney channel tem um programa "peter punk", tornando-o mais um produto. dan, compartilho da admiração do punk e da contracultura. e cabe a ela se renovar, naturalmente, na tentativa e na esperança de o mundo mude. lembrando que enquanto houver esperança, quer dizer que, provavelmente, as coisas não estão bem como deviam estar.