Grito Número Cento e Quarenta e Dois:

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O MELHOR E PIOR SURDO (OU O MELHOR DANÇARINO DA MINHA RUA)

Escuto músicas cujas letras dizem muito sobre sua pessoa, enquanto degusto um conhaque de segunda categoria.
Penso, suspiro, suponho, escrevo.
O conhaque é a bebida oficial da solitude.
Me imagino em uma valsa, mas eu não sei dançar nem isso. Não tenho ritmo, muito menos coordenação motora suficiente.
Sempre tropeço no meio-fio e nos desníveis das calçadas. Algumas vezes, tenho a proeza de tropeçar nos meus próprios pés.
Acendo um cigarro mentolado e o fumo jogando fumaça janela afora. Desta vez elas não formam desenhos, venta forte pelo corredor de prédios. A noite é fria.
Se existe um lugar que foi projetado para a melancolia ter estadia é este parapeito de janela.
Eu aprecio a vista da minha rua úmida, mal-iluminada e vazia e faço analogias óbvias e outras sem sentido fora da minha cabeça.
Apenas quero que exista uma canção sua com meu nome, na verdade, eu não quero nem ouvi-la. Ouvi-la me faria mudar de rumo.
Quero apenas que ela exista e seja a sua canção secreta. Aquela que está sempre fora do repertório. Aquela que nunca foi tocada depois de composta.
Quero que ela tenha poucos acordes, dos mais vagabundos e mal trabalhados.
Que a faça vomitar as borboletas que podem existir em sua barriga.
Que a faça voar.
Quero que essa música apenas exista, para que eu posso supor a sua letra, supor o lirismo em potencial, pois não me importo com o que pode ser ou com o que poderia ter sido.
Eu só me importo em sonhar.
E enquanto eu sonho, eu danço. Danço na rua úmida que é só minha.





3 comentários:

mfc disse...

Seria difícil para mim imaginar a vida sem música!
Para todos nós!
Seria um mundo impossível...

Anônimo disse...

isso só me faz lembrar uma música:

' eu pensava ter uma bicicleta e pedalar até a tua rua dizer que ainda sou tua. ' [.apanhador.só.]

até.
bjo, bjo, bjo...

ps.: achei que só eu ainda gostava de cigarro mentolado.

Monique Burigo Marin disse...

Adorei, Dan!
Às vezes é preciso tropeçar nos próprios pés para perceber que os calçados estão trocados.