Grito Número Cento e Vinte e Seis:

terça-feira, 6 de setembro de 2011

UMA REFEIÇÃO PARA UM HENRY CHINASKI (DE PADARIA)

Acordara com a sensação de ter um tijolo no estômago, sua pele estava fria e na testa, gotículas de suor marcavam seu semblante.
Negou seu desjejum, negou até mesmo o café preto bem servido em sua caneca amarelo-cádmio. Seus dedos estavam trêmulos.
Rodou pelo largo Dona Ana Rosa por toda manhã, fumando sem parar, tremendo os dedos sem parar, imaginando mil situações desagradáveis em um ritmo completamente acelerado.
Chegada a hora de retomar a rotina, sentou, sem almoçar, sem qualquer migalha na barriga e recomeçou os trabalhos do dia anterior.
Quando ela chegou e sentou ao seu lado, aquele tijolo coberto de lodo, guardado em sua barriga, sofreu metamorfose em borboletas. E a tremulação dos dedos se espalhou pelas mãos e braços.

- Acredita que não comi nada hoje? - disse.
- Você precisa se alimentar, está corrido o dia hoje, deve estar bem nutrido.

Então olhou suas madeixas negras e brilhantes escorrerem por seu rosto quando soltou seu cabelo.
E seguiu olhando para os seus olhos cor de sombra queimada. Pareciam queimá-lo por dentro.

- Você ouviu o que eu disse? Dia corrido, bem nutrido!
- Acho que nunca estive tão bem nutrido como estou neste momento.

E depois de sorrir, foi trabalhar em suas enormes pilhas de papéis.

3 comentários:

Patrícia Müller disse...

Lindo.

Monique Burigo Marin disse...

O último texto que escrevi fala sobre tijolos, onde estudo é cheio deles. Adorei o texto, como sempre. E o desenho é um dos mais bonitos que já vi por aqui!

Eu posso postar o seu texto "Sobre Jujubas e Elefantes Murchos" no meu blog? Com os devidos créditos, é claro. Fiquei muito feliz e gostaria de compartilhar com os meus leitores.
Um beijo.

Unknown disse...

Quando comecei a ler seus textos, os primeiros, sem te conhecer, ou conhecer sua maneira de escrever.. Esse seu "cultismo" me incomodava um pouco.
Mas assim como as melhores bandas, leva-se tempo para gostar e realmente entender. Você não utiliza palavras difíceis para mostrar seu vocabulário amplo, acho que você as escolhe a dedo para se encaixarem no texto, sem nenhuma pretensão.

Ahh.. e o texto.. como sempre, gostei muito.!