Grito Número Cento e Dezessete:

domingo, 21 de agosto de 2011

SOBRE SORRISOS PLÁSTICOS

Caminhava por algumas
ruazinhas sujas de São Paulo. A garoa fria era potencializada por um vento forte, tão frio que meus dedos doíam. Estava triste e pensativo.
Entrei em um bar de uma dessas ruas, desses onde homens feios e peludos comem torresmos e bebem cachaça, riem de boca cheia e assistem ao canal de esportes. Pedi um cigarro solto, estava amassado e era de uma marca completamente desconhecida. Acendido o veneno, voltei para os pingos ventosos que consumiram o tabaco muito mais rápido do que eu. E volvi também para meu caminhar filosófico.
Pensei na vida, na morte, nos amores, nos corpos, nos seios e nos olhos. E dentro dos olhos, e na inocência, e na clemência que pediria se por ventura meu sangue cético acreditasse em alguma divindade.
A melancolia traz tanto à mente.
Era um domingo de matiz azul marinho, o mais triste entre tempos e tempos.
Foi quando avistei, entre uma poça imunda e a sarjeta, uma cabeça de palhaço, suja de terra e carcomida pelo asfalto, pelo tempo, pelos olhos das crianças que resolveram desprezá-lo para sempre.
Não pude pensar em mais nada e sozinho externalizei:

- A sua piada não tem mais graça, não é mesmo, amigo?

E no seguir dos passos pensei que a vida para palhaços de plástico seja sempre uma velha anedota que não tem mais graça, mas que quando contam temos que esboçar um sorriso falso.

2 comentários:

luisa vaghetti disse...

sorrisos plásticos: uma busca de sentido para o que não faz mais sentido.

Monique Burigo Marin disse...

Amei!
Conheço sorrisos orgânicos que mereciam acabar na sarjeta.