Grito Número Cento e Nove:

sexta-feira, 22 de julho de 2011

CORAÇÃO DE TINTA

Retrato de Jeanne Hébuterne - Amadeo Modigliani, 1919.
Óleo em tela. 55 x 38 cm. Colecção privada.

Sabia que tratava-se de uma desconhecida que cheirava cigarros e bebida barata.
Que sua lista de amantes era a própria lista telefônica.
E que sua pele tinta restos de tinta-óleo que a deixavam com aparência mendicante.
Mas seus olhos infantis e postura libertina eram analisados à distância e seriam admirados para sempre, como um pai que observa sua filha ao balanço.
Não era de um amor sensual ou carnal, eram apenas olhos de um senhor de bigodes brancos amante de poesia que admirava velhas pinceladas de pintores marginais.
O bigode cobria parte da boca, mas qualquer um próximo a ele saberia que tratava-se de um sorriso inocente.

1 comentários:

Monique Burigo Marin disse...

Sorrisos inocentes são admiráveis, menos quando estão escondidos. Quando estão escondidos não são nada. O que é uma pena.
Adoro devanear sobre obras de arte.
Ótimo texto!