Grito Número Sessenta e Dois:

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre uma das coisas estranhas que eu fazia com treze anos...

Sempre tive uma paixão misteriosa por cemitérios. Há quem diga que eu os frequentava em minha pré-adolescência para chocar, para chamar a atenção e me fazer notar, mas por tantas vezes fui lá sozinho e não falei para ninguém...
Eu sempre descia a ladeira da avenida principal daquela cidade de interior com meu skate e no final dela encontrava a imagem de São João Menino.
Nessas vezes, dava uma volta geral, lia as lápides, olhava nos olhos das fotos e calculava a idade com que tinham morrido.
Várias crianças mortas.
Lia as frases dos epitáfios e pensava no que eu gostaria que fosse escrito no meu.
Nunca cheguei a nenhuma conclusão.
No final da caminhada, entrava em um jazigo cor de areia e o fazia de varanda.
Acendia um cigarro e ficava olhando o nada por horas, até a tarde morrer atrás dos morros.
Depois eu seguia avenida acima, me sentindo vivo.
Mas quando chegava em casa, já estava escuro, eu tomava um banho, deitava em minha cama com a televisão ligada e me sentia como se minhas coroas de flores já estivessem murchas a anos e a única coisa que mantinha minha memória era uma placa de bronze esverdeada sem nada escrito nela.

4 comentários:

Mayume disse...

medonho mais legal!

Patrícia Müller disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patrícia Müller disse...

Quando eu era mais criança que atualmente e meus pais iam ao cemiterio levar flores e tal, eu observava as lapides também e aquelas que estavam abandonadas deixava uma flor, daquelas que meus pais jogavam fora, pois eles não me deixavam pegar as mais novas. Mas não gosto muito de cemitérios, tenho um certo medo, e nossa, pra mim vc é uma pessoa corajosa!

Edgar Semedo disse...

Identifiquei-me muito com o texto, não que procurasse ou procure o cemitério como o faz o narrador do texto, mas os textos, as mensagens, as flores mortas deixam-me sempre a pensar na vida daqueles que jazem e na minha vida que um dia vai morrer e no que dirá a minha pedra e de cor serão as minhas flores.

Tudo de bom,

Edgar Semedo