Grito Número Sessenta e Um:

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sem tempo para pensar em títulos.

Acorda, pega a primeira camisa que encontra no armário e engole um pão no caminho.

Não dá tempo de escovar os dentes, de dar bom dia, de pensar.

Encara oito pilhas de papel, de 40 centímetros cada.

Pareciam totens de tribos canibais.

Sem agilidade seria devorado pelo expediente.

Lê, cataloga, arquiva.

Lê, cataloga e arquiva.

Começa a cantarolar uma canção da década dos homens de chapéu coco.

Percebe que catalogou tudo errado.

Começa tudo de novo desde o começo da canção.

Pensa em entrar para um coral, mas não daria tempo.

Pensa em fazer um esporte, mas não daria tempo.

Pensa em ter mais tempo, mas arquiva tudo errado de novo.

Pausa para o café, bebe dois copos descartáveis.

Coloca o copo na lixeira que diz orgânico, pois já está tudo misturado mesmo.

Serviços bancários, fila, metrô, acende um cigarro no caminho de volta.

-É um assalto.

Perde os documentos.

Não quer mais ter RG.

Não quer mais saber de CPF.

Cansou do padrão, mas nunca soube ser ovelha desgarrada.

Cansou de frases soltas.

Tirou a gravata, deitou em sua cama.

Acendeu um cigarro, serviu um conhaque.

Rezou para Nossa Senhora Aparecida.

Dormiu.

Acordou.

Voltou a dormir.

Abriu os olhos mais uma vez e apanhou a carteira de cigarros da cômoda.

Acendeu outro cigarro e fez um café.

No primeiro gole do café, se encontrou.

E estava lendo, catalogando e arquivando.

Mas estava tudo errado e tinha que começar aquilo tudo de novo.

1 comentários:

Monique Burigo Marin disse...

Quem sabe, no meio de toda essa mistura, ele acabe fazendo a combinação certa. Assim como fazes tu por aqui. :)