Grito Número Cinqüenta e Sete:

domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre tufões, levar embora e trazer de volta...

Fiquei lendo besteiras até altas horas da matina.
Só precisava levantar às nove da manhã.
Às oito estava de pé com minha já tradicional nova caneca térmica cheia de café.
Perdi às horas encarando a parede e fazendo nada. Quando bateram onze e meia engoli uns
restos da geladeira para ir ao trabalho.
Estava saindo quando notei o vento levando tudo embora, inclusive quatro dias
ininterruptos de chuva. Um vendaval estava começando e só fui perceber quando estranhamente o vento estava levando meu carro para o lado esquerdo da pista.
Cheguei no lugar onde trabalho e estava deserto. O vento havia levado as pessoas dali também.
A ventania entortou o poste e arrebentou os fios que levavam a força para a repartição. Estava muito escuro e me lembrei naquele corredor úmido e mofado de alguns clássicos do cinema de horror, cheguei até mesmo a imaginar um homem com a cara de couro costurado e uma motosserra nas mãos, grunhindo em minha direção.

Tenho uma imaginação que me rouba do mundo às vezes.

Não haveria expediente pelo incidente da energia, não precisava mais ficar ali.
Que bom, menos seis horas sentado em uma sala úmida sem janela num dia de vento forte.
Voltei para casa pensando no tempo que me sobrava para resolver algumas coisas que normalmente não tenho. Já ia sair quando lembrei que a carteira estava no apartamento. Subi para pegá-la e aproveitei e me servi de mais café. Sentei no meu sofá e fiquei olhando para a parede e ouvindo a melodia odiosa que o vento estava a fazer em minha janela. E fiquei assim por um bom tempo. Fiz pipoca, que adoro, mas a mesma não tinha gosto. O café sim, tinha.
O vento acabou levando as horas também e acabei não fazendo nada todo o dia.
Não tinha ânimo para encarar o vento, nem para sair do sofá.

O vento levou todas as minhas energias.

Esse tufão violento levou tudo a minha volta embora, mas trouxe uma melancolia que eu havia perdido há dias.
Mas ela voltou diferente, eu não estou entristecido como estava antes, estou apático.
Estou com um leve receio que a ventania tenha levado meus sentimentos junto as nuvens de chuva que me davam pingos na janela que tanto me acalmaram nos últimos dias.
Espero que a chuva que vai demorar a vir os traga de volta antes que o vento leve embora mais alguma coisa.

2 comentários:

Bruna Barievillo disse...

"tenho uma imaginação que me rouba do mundo as vezes"...e e´essa imaginação que mais gosto em ti, porque não te faz desse mundo, te faz melhor! Texto belíssimo!

Monique Burigo Marin disse...

Mais um texto ótimo!
Aqui - dentro e fora de mim - venta muito. Estendo os braços e abraço qualquer coisa que mantenha meu corpo próximo ao chão.
E ser roubado desse mundo, às vezes, pode ser um presente. Ou pelo menos tento encarar dessa maneira quando acontece comigo.