Grito Número Cinqüenta e Cinco:

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sobre eu querer, fingir e ser várias coisas, como por exemplo, o cachimbo do Magritte


Sei que às vezes eu não me conheço muito bem.
Forço um caminho sem efeitos colaterais.
Forço uma gravata no meu próprio pescoço.
Forço uma ambição por alguma coisa que não me importa muito.
E são nessas investidas que eu me sinto como o cachimbo do Magritte.
Eu estou ali, sendo um cachimbo, mas a escritura diz que não.

O que eu sou então, porra?

Eu sei que eu amo o cheiro e o gosto de café.
Sei que eu tenho uma paixão enorme, aparentemente sem motivos, por fiordes.
E que um dos meus maiores sonhos, é sentar sozinho na beira de um deles, numa tarde com um pouco de vento, nada forte, e fumar um cachimbo observando a água bater nas pedras.
Eu sei que eu quero ler muito mais do que eu já li, conversar muito mais do que já fiz, amar muito mais do que amei e visitar lugares que ainda desconheço.
Mas não quero viver mais do que eu vivi, pois o que já passou já está bom para mim.
Eu só quero me encostar numa árvore e saber muita coisa sobre livros e cachimbos.
Porque eu sei, lá no fundo, que mesmo o livro dizendo, "Ceci n'est pas une pipe", eu sou um cachimbo, com um braseiro queimando bonito lá dentro.



2 comentários:

Bruna Barievillo disse...

No fundo, acho que ninguém sabe o tempo todo quem é. A gente finge, representa, projeta, esconde, abstrai, se rende e tenta acreditar. Mas viver mesmo, a gente vive muito pouco. Vivemos de verdade naqueles momentos sem aambição dum motivo. Adorei o texto!

Patrícia Müller disse...

Eu penso que podemos e devemos ser maaais do que qualquer definição, pois não dizem que quem se define se limita?
Quanto mais buscamos saber quem somos, mais descobrimos, vivemos e aproveitamos...
No fundo estamos todos buscando a resposta dessa pergunta, e quem a encontra tem algum motivo pra continuar a vida?