Grito Número Quatro:

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um Presente de Natal

A neve recobria a janela pela milésima vez
Eu olhava as famílias vizinhas pela milésima vez
Eu não sentia nada, além de uma profunda agonia, acreditem, pela milésima vez

As bolas de vidro se quebram na minha imaginação
Enquanto a agonia arranjava um disfarce
De papel estampado e laço em fita de cetim

Abraços, sorrisos hipócritas, sem despertar qualquer indício de paixão
O limite entre a felicidade e a agonia é apenas uma tímida prece
E decepei minhas mãos e ouvidos para que não orem por mim

Um pinheiro morto pela milésima vez
Um enfeite quebrado pela milésima vez
Eu não sentia nada, além de uma profunda agonia, acreditem, pela milésima vez

O homem que te apunhalou está presente para te abraçar e pedir perdão
Para que no dia seguinte de novo te mate
Mal sabem todos que morto estou numa cova sem fim

Com fitas vermelhas e estrelas douradas
Aqui posto minha cova lapidada
Estes sorrisos e alegria pós doze baladas
Não significam nada para mim

Os talheres de prata, pela milésima vez
A faca de ouro para o pernil do pobre porco, pela milésima vez
O meu sangue na mesa, no piso, na árvore, na neve
A sensação só minha de agonia que ninguém nunca teve
E que agora palpita no coração de todos vocês
Pela primeira e última vez.

1 comentários:

Leonardo Otero disse...

Esse tipo de coisa só acontece por conta do egocentrismo que as pessoas insistem em cultivar.